Ontem vi um menino
nadando pra sobreviver sob a lama
em suas pequeninas mãos, latas vazias,
talvez houvessem letras naquelas latas ou seus pequenos sonhos,
ou estava à procura de seu futuro em meio as latas e as lamas,
mas eu somente podia ver suas mãos, pois seu corpo se encontrava submerso num sonho roubado
por àquela podridão,
De repente só me vieram as lágrimas e o pueril escondido, fundindo-se em meio ao lixo e eu com
minhas lágrimas não sabia se via menino ou lixo, e as mãozinhas por hora desapareciam sob o lixo e as latas que carregavam, acho que naquelas haviam sonhos, sonho infantil, lápis, caneta, papel, livro,
numa imaginação de criança pudesse caber tão amontoado de coisas numa pequena latinha,
fiquei pensando se tudo não estaria dentro daquelas pequenas latinhas em suas minúsculas mãos
acho que o Brasil também caberia dentro daquele lamaçal e junto a esperança de muitos meninos
Ele se foi num instante até meu olhar não poder mais vê-lo, sobretudo nunca pude esquecê-lo, o menino mergulhado na lama nem seu futuro, ainda vejo suas mãos e nelas seus sonhos, onde deveriam estar lápis, papel e caneta estava apenas latas e dentro seus sonhos escondidos.
por Virginia Melo
(proibida qualquer reprodução)
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