* O rato
Este momento é o único momento em que consigo ficar quieta e pensar somente em meu passado e nos que foram os momentos mais consumíveis de minha vida, momento de razão, de suprema vã filosofia –momento do nada – infernalmentes torturantes mas, que fazem partes da minha razão, do que hoje me tornei.
Pego em minha cabeça e penso se isso que estou sentindo é a razão ou a emoção, o amor ou o ódio, todos numa mesma carne, todos numa mesma lembrança se tornando consciência ou isto que está acontecendo essa tal consciência é apenas reflexão do que foi para mim horas consumíveis do meu ser.
Eu, somente eu, sozinha de porta fechada, dentro de um barraco, um pequeno casebre, mas onde se cabia de tudo, mas ao mesmo tempo o nada não cabia mais dentro daquele recinto, somente cabendo dentro de mim, comecei a pensar no rato que vira ontem a noite aqueles olhos penetrante me olhavam, olhos pretos e brilhantes, brilhantes como pérolas que me perseguiam e eu caindo em um abismo, corria sem ver o abismo que me esperava e os olhos ainda me seguiam e como toda perseguição eu fugiria sem olhar para trás não via mas, os olhos pretos e brilhantes, pois não olhava para trás.
Continuava sentada entre aquelas quatro paredes, para mim eram como se fossem paredes, alvenaria , mas a verdade que me sufocava não eram paredes e sim lonas e plásticos que me sufocavam toda vez que ia dormir, somente dormindo me sentia sufocada, talvez por estar dormindo não me lembrasse que morava num barraco envolto de lamas e cocôs que passavam como uma lagoa arrastando os lados ruins das pessoas e eu estava sentada tranquilamente quando ele reaparecera era aquele rato com seus brilhantes olhos pretos e nojentos que me fitava, acho que todos os ratos são iguais, brilhantes, astutos e nojentos , aquele brilho daquele ser que se movia lentamente, aquele brilho parecia fazê-lo importante, como tudo que brilha é importante, mas aquele rato parecia ter um olhar de autoridade, tinha uma certa importância .
E minha moralidade não podia deixar aquele rato me olhar daquela forma, naquela favela, nada parecia tranqüilo, nem as pessoas me pareciam tranqüilas, quando se agitavam podia escutar suas lamurias ao longe, alguns gritavam alto, outros deixavam que seus olhares gritassem liquidamente, mas os ratos me perseguiam como algozes maltrapilhos , como alguns político sem moral alguma que roubam a comida de crianças nas escolas públicas tinham uma certa semelhança a eles, ratos imundos, será que pensam como gente? Violentam como gente? Aquele rato me perseguia, entrava em minhas entranhas por seu olhar penetrante e me mobilizava, olhos sem gosto nem prazer encaravam-me forçadamente com aquele jeito astuto.
Via seus olhos sob as tábuas do barraco que ficavam no chão, coloquei aquelas tábuas para tomar banho era assim que tomava banho sobre as tábuas num local a parte e o nojento achou de fazer sua casa embaixo de minhas tábuas e agora seus olhos astutos e precisos me perseguiam.
Tive uma ideia, pegaria ele, com a fome que estava o comeria sem mesmo esquentar sem tirar seus pêlos, seus falsos pêlos brilhantes. Para que serve seu brilho podia comê-los com pêlo e tudo, meu estômago se rebatia como um policia que bate em presos, com um pouco de violência, lembrava daquele rato que me fazia tirar do sério (......)
* por Virginia da Silva Melo
introdução do conto o rato escrito por mim.